Este espaço tem por objetivo orientar aos irmãos e irmãos regras básicas de interpretação de textos, para você conseguir entender a Bíblia ou qualquer outro livro se bem que o nosso prazer está em entender e interpretar corretamente os textos bíblicos.
Vamos primeiro explicar que alguns pregadores falam expressões complicadas, os mais experientes explicam o significado das palavras difíceis como cristologia, que nada mais é da doutrina que fala sobre Jesus, os menos experientes normalmente o fazem para ganhar prestígio, vamos falar sobre as regras de hermenêutica que pode ser interpretada de maneira simples, como a ciência e a arte de interpretar textos. Não é algo descoberto agora, não é inovação é algo antigo termo derivado do original grego hermeneuein, que significa traduzir, interpretar, tornar inteligível. O termo significa 1) interpretação ou 2) a investigação sobre a natureza ou métodos da interpretação, a teoria daí resultante.
Tem-se refletido sobre a arte de interpretar textos desde a antiguidade, mas a palavra "hermenêutica" foi pela primeira vez usada por J. C. Dannhauer em meados do século XVII. Salientou a existência de três categorias de textos para os quais era necessária uma teoria da interpretação:
Introdução
“Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido” Ne 8.8. “Então Filipe correu para a carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe perguntou: “O senhor entende o que está lendo?” Ele respondeu: “Como posso entender se alguém não me explicar?”, “Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se ao seu lado” At 8.30,31.
I - QUAL O OBJETO DE ESTUDO DA HERMENÊUTICA?
Entendemos por “objeto de estudo” aquilo que estará sendo observado analisado e cuidadosamente estudado em seus mais variados aspectos por uma determinada disciplina. Uma das características de uma ciência é exatamente possuir um objeto de estudo, possui uma noção bem delimitada daquilo a que vai investigar.
No caso da hermenêutica, seu objeto de estudo é o texto, seja um texto qualquer, de caráter secular ou o texto sagrado, a hermenêutica voltará o seu olhar investigativo e explorador para ele, dissecando-o ao máximo possível, atentando bem para todos os aspectos presentes neste texto que possam contribuir para a compreensão do que pretendia dizer o autor ao escrever.
O termo texto é oriundo do latim “textur” e possui o significado de “tecer”, “tecido”, dando a ideia da construção de um pensamento tecendo-se para isto, várias palavras, frases e orações juntamente, visando expressar uma ou mais ideias.
Devemos ter em mente a observação e estudo detalhado do texto, dividido em partes, pois não poderemos entender plenamente o texto sem antes compreendermos suas ideias, não alcançaremos as ideias sem compreendermos os períodos que as constituem, não compreenderemos estes períodos sem nos apropriarmos do sentido de cada frase e isto só será possível se identificarmos o significado de cada expressão e palavras que se encontrem presentes nestas frases.
Portanto, teremos a seguinte sequencia em ordem crescente para análise de nosso objeto de estudo na hermenêutica, o texto:
Palavras |
Expressões |
Frases |
Período |
Ideia |
Texto |
Palavra é formada por uma palavra, Expressões Formadas por duas ou mais palavras, Frases são formada por duas ou mais expressões, um período é formada por duas ou mais frases, uma ideia é formada por dois ou mais períodos, e o texto é formada por duas ou mais ideias.
Além da observação de cada um destes elementos, é possível ainda, que tenhamos que nos deter na consideração de outros elementos também presentes no texto, como o contexto mais amplo, o propósito do autor, as figuras de linguagem etc.
II - “EXEGESE” OU “EISEGESE”?
Um Estudante da Bíblia faz-se necessário ainda, compreender a diferença entre dois termos um pouco semelhantes em sua forma gráfica e na sua pronúncia, porém, completamente diferentes, contrários no seu significado. Estes termos aos quais nos referimos são “exegese”, cujo significado já conhecemos, extrair para fora o sentido do texto e “eisegese”, que possui exatamente o sentido oposto, incluir um outro sentido para dentro do texto.
Trata-se aqui de incluir um sentido novo, diferente do que o autor pretendia que tivesse, portanto, um sentido apócrifo são aquelas minhas ideias ou opiniões particulares que passam a substituir a ideia original presente no texto. Seria como parafrasear o dito popular “Você está colocando palavras na minha boca” da seguinte forma: “Você está colocando significados no texto”.
Como colocamos em nossas mentes que o nosso propósito é entender o significado real do texto, não vamos ensinar a nos apegar a comentários bíblicos, apesar de que existem alguns muito bons, nem a comentário na Bíblia de estudo. Queremos o significado e não a significação; O significado é o sentido real do texto, é o que o autor pretendia dizer ao escrevê-lo, enquanto a significação é a maneira como eu vejo o texto, portanto, é a minha interpretação particular, a minha visão equivocada, distorcida e completamente divorciada da ideia da presente no texto em foco.
Devemos considerar a tabela a seguir:
Exegese (Significado) |
Eisegese (Significação) |
Busca o significado original do texto sagrado. |
Atribui minha significação ao texto. |
A ideia já está presente no texto, bastando extraí-las. | A ideia está presente na minha mente, bastando acrescentá-las na Bíblia. |
A Bíblia fala sozinha a sua mensagem | Eu falo pela Bíblia, distorcendo sua mensagem. |
Utiliza critérios Hermenêuticos. | Não há critérios ou regras de interpretação. |
Sua comprovação é vista no texto bíblico. | Sua comprovação é extrabíblica. |
Aceito o que a Bíblia me diz. | A Bíblia “acata” minha opinião. |
Recebemos o ensino genuinamente bíblico. | Podemos receber ensinamentos extras ou antibíblicos. |
Texto áureo: 1pe 4.11ª |
Texto áureo: Mt 15.9 |
III - A IMPORTÂNCIA DA HERMENÊUTICA.
A importância da hermenêutica como disciplina é importante e por isso comecei por ela por ser importante para a vida ministerial e a vida devocional de cada crente na leitura diária é algo inquestionável, listei algumas vantagens de maior relevância sem querer com isso encerrar o assunto, vejamos a seguir:
a) Independência na interpretação do texto – Não pretendo com isso desprezar os bons comentários bíblicos, notas explicativas no rodapé presente e outros recursos, no entanto, diferente do próprio texto da Bíblia, que não passíveis de erro, esses recursos são passíveis de erros. Portanto só há uma maneira de não se tornar refém de terceiros, é saber interpretar sozinho os próprios textos.
b) Segurança na exposição da Palavra de Deus – Aquele que conhece os princípios hermenêuticos de interpretação está seguro do que o texto está dizendo, possuindo assim, uma base forte para o seus argumentos, a própria Bíblia. Podemos discordar da opinião de muitos expositores da Bíblia, só não podemos discordar do Livro Santo, podemos discordar de uma pregação, afinal ninguém é perfeito, mas nunca discordar da própria Bíblia.
c) Convicção daquilo que Deus está me dizendo em sua Palavra – Como saberemos se uma interpretação está correta? Será isso mesmo que Deus quis dizer? Essa passagem bíblica aplica-se a mim, a igreja ou a Israel? Estas perguntas são inevitáveis ao lermos a Bíblia, e as respostas confiáveis, só podem ser adquiridas através do uso da Hermenêutica. Os pregadores durante muito tempo, usando o nome do SENHOR colocaram “fardos pesados” sobre as pessoas (Mt 23.4), inventando pecados, proibições e mandamentos humanos (Mc 7.7; Cl 2.20-22), baseados na vontade humana e em segundo lugar a Escritura, e exigindo que as pessoas os observem, quando os mesmos não possuem nenhum amparo bíblico. Existem várias igrejas evangélicas e todas são unânimes ao elegerem as Sagradas Escrituras como sua “única regra de fé e prática”.
d) Refutação dos falsos ensinos – Este é o grande desafio da igreja da última hora (1Tm 4.1) só será executado com eficiência por meio de uma exposição clara das Sagradas Escrituras, uma exposição que possua bases bem firmadas na hermenêutica sacra. Sem isto, é possível que os falsos expositores afirmem qualquer coisa tomando como pretexto a Bíblia (2Pe 3.16).
1 – HERMENÊUTICA GERAL
Lembramos que na designação de ordem das regras não são universais, ou seja, não há um consenso ou convenção que estabeleça que regra será denominada como primeira ou segunda e assim por diante, portanto, esta forma de se referir às regras é específica deste trabalho, sendo mais importante para o leitor cada regra pelo que estabelece.
1) PRIMEIRA REGRA
A Bíblia interpreta a si mesma.
Existem autores que apresentam esta regra de versões diferentes, porém, mantendo o mesmo princípio, como “a Escritura explicada pela própria Escritura” ou “a Bíblia, sua própria interprete” e ainda, “as Escrituras são seu melhor intérprete”. Esta é a regra de ouro da hermenêutica. Também é conhecida como a “regra áurea” da hermenêutica sacra, ela evita aquelas famosas expressões introdutórias em muitas pregações, como “eu acho”, “Imagino que”, “eu penso que” etc., Esta regra funciona como um tipo de vacina com relação a interpretações pessoais da Bíblia Sagrada. Toda dúvida ou aparente dificuldade deve ser tirada do próprio texto sagrado. Não se deve inventar explicações para pontos difíceis, alguém já disse com muita propriedade “Onde a Bíblia se cala, não devemos ter voz”. O perigo de acrescentar algo ao texto (Ap 22.18). O estudante das Sagradas Escrituras deve contentar-se com o que está escrito (Dt 29.29; Rm 15.4), sem jamais violentar o texto bíblico em seu pronunciamento. Por mais lógica e crível minha ideia, suposição ou conjectura, não podemos fazer de nossas ideias as palavras da Bíblia, porém ao contrário, “fazer das palavras da Bíblia as nossas ideias” é o desafio de expositores fieis.
Portanto, ao depararmos com qualquer dificuldade do texto bíblico, nossa postura deve ser a de procurar na própria Bíblia, no contexto imediato ou no contexto remoto, devemos admitir que a Bíblia não precisa ser enfeitada nem remendada, nessa matéria conforme essa regra, não necessita de “remendos” externos e inventados para esclarecer a mensagem. E. Lund chama esta regra de “regra fundamental” ou “regra das regras” e descreve a sua importância para o estudante da Bíblia:
“Quanto á Bíblia, o procedimento sugerido não só é conveniente e muito factível, mas absolutamente necessário e indispensável” (LUND, 1996, p.23).
Martinho Lutero, o grande líder da reforma protestante, também declarou o valor desta regra de interpretação bíblica:
“Á semelhança de Agostinho, Lutero afirma, em sua obra Analogia Scripturae (Analogia da Fé) que as passagens obscuras devem ser entendidas com base nas de sentido nítido. “O texto bíblico interpreta a si próprio”, costumava dizer. “Este é o verdadeiro método de interpretação, que compara passagem bíblica com passagem bíblica da forma certa, adequada” (LUTHER’S Works, 3:334). (ZUCK, 1994, p.52).
Vejamos um exemplo onde a aplicação deste princípio de interpretação das Sagradas Escrituras se mostra eficiente para nos proporcionar uma melhor compreensão:
Exemplo 1: Por que o apóstolo Paulo afirma aos crentes de Corinto que é melhor não casar? (1Co 7.1,8,38).
Muitas explicações podem ser inventadas a essa declaração aparentemente incômoda, como “não havia tempo para casamento, pois Jesus estava perto de voltar de imediato”, ou ainda, “haveria mais tempo para fazer a obra de Deus sendo solteiro” e até a afirmativa absurda de que “Paulo seria homossexual, daí posicionar-se contra o casamento”, porém, nenhuma dessas hipóteses corresponde á explicação que a própria Bíblia nos oferece em seu contexto imediato desta passagem em 1Co 7.26,28. Vejamos o texto no contexto imediato:
“Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom para o homem permanecer assim como está. Mas, se te casares, com isto não pecas; e também, se a virgem se casar, por isso na peca. Ainda assim, tais pessoas sofrerão angústia na carne, e eu quisera poupar-vos.”(Grifo nosso).
O próprio texto traz a resposta da pergunta, alguma situação naquele momento não tornava o casamento algo apropriado, pelo menos circunstancialmente, querendo evitar algum tipo de sofrimento aos que se casassem em meio aquela situação, que não sabemos ao certo qual era. Porém, ele próprio deixa claro que não se trata de ensino normativo para nortear a vida cristã através dos séculos, no versículo 28: “Mas se te casares, (contrariando o conselho do apóstolo) com is não pecas”. As hipóteses iniciais contrariam outras passagens das Escrituras (1Co 6.10,11; 7.2-5; 1Tm 3.2,4,5; 4.1-3; 1Pe 3.7; Tt 1.6).
2) SEGUNDA REGRA
Um texto não pode significar aquilo que nunca poderia ter significado para seu autor e seus destinatários originais.
Esta regra parece muito clara e lógica, alguém pode até falar que ela não era para ser inclusa nessa aula por tamanha obviedade, porém, é extremamente necessária para nossa reflexão sobre a regra, uma vez por desprezá-la, muitos pregadores acabam dando ao novos convertidos um novo sentidos ao texto sagrado. Pregadores descuidados por ignorância (falta de saber, ou conhecimento), ou pura negligência, apresentam novos significados dos textos sagrados num verdadeiro atentado a revelação escrita por Deus, como se precisasse de enfeite ou uma nova interpretação, usam muito a frase: “Não estudo a palavra antes, Deus me dá sempre a palavra na hora” não que isso em uma emergência nunca venha a acontecer, mas nunca com um texto que nunca estudamos, ou usam a frase: “Não sei por que estou dizendo isso, mas Deus sabe”, ou “é Deus que está me dando”. Geralmente, estes novos significados dizem respeito a situações e problemas enfrentados pelos ouvintes da atualidade, fugindo completamente daquilo que os autores da Bíblia quiseram comunicar um dia.
Exemplo 1: Os carros velozes com semelhanças de tochas descritos pelo profeta Naum são uma visão dos modernos automóveis de hoje?
O texto de Naum 2.4 “Os carros se enfurecerão nas praças, chocar-se-ão pelas ruas; o seu parecer é como o de tochas, correrão como relâmpagos”. Já foi utilizado por pregadores renomados e muitos definem que a criação dos automóveis como um dos sinais da vinda que está para acontecer de Jesus, dizem que são os veículos atuais. Esta regra nos ajudará a voltar a sensatez do texto, talvez por isso, essa regra faça parte do que pode chamar “hermenêutica do bom senso”. Como poderia o profeta está falando de uma invenção tão distante de sua época? Como seus ouvintes e leitores iniciais poderiam entender acerca do que ele estaria falando? Não é fácil dar respostas a estas questões. Trata-se de uma descrição de guerra e tomada da cidade por exércitos inimigos que possuíam carros e lanças cintilantes (Na 2.1-3), porém, carros daquela época, puxados por cavalos e não movidos a combustível e com motor, por também não existir posto de gasolina.
Exemplo 2: Todo crente possui uma promessa de seus parentes serão salvos também?
Quem já não descansou e talvez ainda hoje, espere confiadamente na “promessa” de At 16.31, como uma garantia de que seus parentes e entes queridos serão salvos um dia? Vejamos o texto mencionado:
“Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”. (grifo nosso).
Muitos enxergam neste versículo o compromisso de Deus de salvar o filho desviado, o marido alcoólatra, a esposa descrente, a mãe idólatra e a lista segue centrados na expressão “tua casa”.
Segundo a regra em foco, o apóstolo Paulo não poderia estar pensando na tia da irmã Severina, no pai do irmão Pedro, na avó do irmão Antônio, na esposa do irmão Clodoaldo ao escrever este texto, de modo que ele signifique para todos, ao mesmo tempo, uma promessa de salvação para seus parentes. Na verdade, se isto fosse verdade, a grande estratégia missionária seria ganhar apenas uma pessoa (alma, vida) de cada família e pronto, a salvação de toda a humanidade estaria garantida. Porém, a interpretação errada tem causado nas pessoas que acreditam uma profunda tristeza, ao verem que Deus não está realizando a salvação se ele “garantiu”, e porque não acontece? E jogamos a culpa me nos mesmos. O contexto nos mostrará que estas palavras são uma resposta do apóstolo Paulo ao carcereiro de Filipos, quando ao passo necessário para a sua salvação: crê, não somente ele, mas também os seus familiares (se também crerem).
3) TERCEIRA REGRA
Considerar a aplicabilidade normativa entre o Antigo e o Novo Testamento.
Para entendermos essa regra importantíssima é necessário entendermos primeiro o que é um testamento, que no nosso caso, temos dois, Antigo e Novo testamento. Essa palavra tem muitos significados, porém, no sentido bíblico, ela vai significar “aliança”, “pacto”, “concerto”, uma espécie de “contrato” entre duas partes (Hb 9.16-18), contendo direitos (promessas) e deveres (mandamentos, estatutos).
Como mencionamos temos dois testamentos, duas alianças:
Toda aliança possui alguns elementos comuns. Uma aliança envolve duas partes, possui um mediador, uma base legal, onde estão os direitos e deveres e geralmente um marca ou sinal distinto desta aliança. Observe o quadro comparativo entre a Antiga e a Nova Aliança e seus elementos:
Aliança: |
VELHA ALIANÇA |
NOVA ALIANÇA |
Partes Integrantes: |
Deus e Israel |
Deus e a Igreja |
Mediador: |
Moisés |
Jesus (Jo 1.17) |
Base Legal: |
Mandamento e promessas do AT |
Mandamento e Promessas do NT |
Marca ou sinal: |
Circuncisão na carne (Gn 17.9-13) |
O Espírito Santo (Ef 1.13,14; Rm 2.29) |
Defensores: |
Escribas, fariseus e saduceus |
Jesus e os apóstolos |
Além de atentarmos para o fato de que fazemos parte da Nova aliança e não da Velha aliança, consideremos também a razão dos adjetivos “velho” e “novo” aplicados a cada um destes concertos.
Geralmente quando comparamos duas coisas as quais chamamos uma de “velha” e a outra substituída por algo novo (Hb 7.12,18, 19; 8.13; 10.9). É exatamente este o sentido destes adjetivos aplicados aos dois concertos registrados nas páginas da Bíblia, por essa razão é que chamamos uma aliança de “velha” e a outra de “nova”, a Velha Aliança foi substituída pela Nova Aliança, que é superior, da qual fazemos parte (Hb 7.22; 8. 6,7; Lc 5.36-39).
Olhe a comparação entre as duas Alianças em 2Co 3.1-17 que demonstra claramente a superioridade da Nova aliança sobre o velho pacto, conforme o quadro abaixo:
VELHA ALIANÇA |
NOVA ALIANÇA |
Escrita com tinta (v3) |
Escrita com o Espírito de Deus (v.3) |
Gravada em tábuas de pedra (v.3) |
Gravada em tábuas de carne do coração (v.3) |
Aliança da letra que mata (v.6) |
Aliança do Espírito que vivifica (v.6) |
Ministério da morte (v.7) |
Ministério do Espírito (v.8) |
Veio em glória desvanecente(v.7) |
Maior glória, sobre-excelente glória e permanente(v.9,10) |
Ministério da condenação (v.9) |
Ministério da justiça (v.9) |
Permanente o véu (v.15) |
O véu é retirado (v.16) |
Escravidão |
Liberdade (v.17) |
Essa regra mostra que uma determinada Aliança e de que direitos e promessas de uma aliança são para os que fazem parte daquela aliança, diz respeitos as partes integrantes daquela aliança, ou seja, implica em afirmar que não devemos pegar as promessas ou mandamentos do Antigo Testamento e aplicá-los a Igreja, nós fazemos partes da Nova Aliança, que tem direitos e deveres próprios e superiores do Antigo Concerto (Gl 4.9-11; Cl 2.16,17; Hb 9.10).
Portanto, essa regra de interpretação trata do relacionamento entre o Antigo e o Novo Testamento ao interpretarmos e aplicarmos o texto sagrado. Esta relação fica bem delimitada no aspecto normativo considerando-se o seguinte princípio:
Um texto, mandamento ou preceito do Antigo, só é válido como ensino normativo (que estabelece norma, regra) para nossos dias, para a igreja, se estiver confirmado pelo Novo testamento.
Exemplo 1: Os dez mandamentos ainda são válidos para igreja na Nova Aliança?
Os dez mandamentos registrados em Êx 20.3-17, apenas um não é confirmado no novo testamento, o quarto mandamento a guarda do sábado. Em vez de ratifica-lo como acontece com os demais, o Novo testamento rejeita a prática ou condição para a salvação, conforme evidenciam as passagens neo-testamentárias de Mc 2.27,28; Jo 5.16-18; Gl 4.9-11 e Cl 2.16,17.
Observe o quadro comparativo abaixo, dos Mandamentos do Antigo Testamento que estão ratificadas ou não no Novo testamento:
Nº |
ANTIGO TESTAMENTO |
NOVO TESTAMENTO |
1º |
“Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3) |
“...vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra...” (At 14.15) |
2º |
“Não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20.4) |
“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21) |
3º |
“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Êx 20.7; Lv 19.12) |
“De maneira nenhuma jureis...” (Mt 5.33-37; Tg 5.12) |
4º |
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (Êx 20.8; 31.12-17) |
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5º |
“Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12) |
“Filhos, obedecei a vossos pais” (Ef 6.1-3) |
6º |
“Não matarás” (Êx 20.13) |
“...não matarás...” (Rm 13.9) |
7º |
“Não adulterarás” (Êx 20.14) |
“Não adulterarás...” (Rm 13.9; Mt 19.18) |
8º |
“Não furtarás” (Êx 20.15) |
“...não furtarás...” (Rm 13.9; Ef 4.28) |
9º |
“Não dirás falso testemunho” (Êx 20.16) |
“Não mintais uns aos outros...” (Cl 3.9; Ef 4.24) |
10º |
“Não cobiçarás...” (Êx 20.17) |
“...não cobiçarás” (Rm 13.9) |
Como podemos ver o quarto mandamento não está inserido nos mandamentos para a Igreja, os adventistas insistem em afirmar que o mandamento da guarda do sábado permanece válido da velha para a Nova Aliança, mesmo sem existir um só versículo, eles desprezam o princípio de interpretação.
Exemplo 2: Por que não praticamos mais sacrifícios de animais como os israelitas praticavam, seguindo as instruções da Velha Aliança?
A resposta a esta pergunta segue o princípio interpretativo que norteia o relacionamento entre os mandamentos constantes do Antigo Testamento e a sua aplicação à igreja na atualidade. Essa prática não se confirma no novo testamento, tem no AT (Lv 1.2-17), e com o caráter didático-profético apontando para o sacrifício único e perfeito de Cristo (Hb 10.1-12). Desta forma está prática é restrita ao antigo pacto.
Exemplo 3: Por que não observamos a prática da circuncisão como sinal de que temos um pacto com Deus?
A circuncisão era um sinal do pacto celebrado com Deus e Abraão (Gn 17.9-14), extensivo aos seus descendentes. Por isso também nos não recebemos este sinal porque é uma aliança com Deus e Israel e nos não somos Israel somos Igreja, apesar de que, alguns sem respeitar os princípios hermenêuticos dizem que somos o Israel espiritual de Deus sendo uma grande heresia, somos Igreja At 8.1-3; Gl 6.16.
Exemplo 4: Por que não estamos impedidos de comer, atualmente, muitos dos alimentos que os israelitas eram proibidos de ingerirem pelo antigo pacto?
Na verdade na Velha Aliança tinha muitos alimentos que eram considerados impuros (Lv 11.1-47). No entanto, sobre nós que estamos debaixo de um novo concerto que já não pesam estas mesmas proibições alimentares. A partir de uma definição muito clara de Jesus, o mediador dessa nova Aliança, isto fica muito claro:
“Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina” (Mc 7.15).
Outra afirmação apostólica, feita pelo apóstolo Paulo, esclarecerá as dúvidas que porventura, ainda persistam quanto a esta questão de alimentos proibidos no contexto da Nova Aliança:
“Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos” (1Co 8.8).
Isso inclui o comer sangue, alguns legalistas e fanáticos, que preferem a tradição ao estudo bíblico sério das Escrituras, pois, querem transformar em doutrina costume Israelita, dizem que a ordenança do não comer sangue é antes da lei:
“Mas uma coisa que vocês não devem comer é carne com sangue, pois no sangue está a vida” (Gn 9.4).
E dizem está confirmado em At 15, porém, vejamos se realmente é assim, em At 15 a questão não era pelo sangue, e sim sobre o guardar a lei de Moisés inteira, no v.19 Tiago diz que não devemos atrapalhar os que se convertem, no evangelho e no v.20 diz:
“mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (AT 15.20).
Mas como foi dito a reunião não era sobre o comer ou não comer sangue, aí vamos ao contexto remoto, pois o contexto imediato já diz que teve essas condições na presença dos Judeus, vamos ver Gl 2:
“e conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência” (Gl 2.9,10).
Aqui podemos ver que é uma passagem que fala do acontecimento do concílio de At 15, e não menciona o sangue e as outras condições, mas diz que é para ajudar os pobres, ou seja, quem guardar o não comer sangue terá que guardar toda a lei do AT, porque vivemos na Nova Aliança e esta ausência de confirmação na Nova aliança para proibições de natureza alimentar ficará ainda mais evidente em outras passagens do Novo Testamento (Mc 7.14-19; At 10.9-15; Rm 14.14,17; 1Tm 4.3-6; Tt 1.14,15; 1co 8.8).
4) QUARTA REGRA
Diferenciar o registro de um fato ou elemento cultural do texto bíblico de uma ordem para praticá-lo.
Esta sem dúvida é uma regra essencial para evitar-se o surgimento de proibições, pecados e imposições de homens, desprovidas de um respaldo consistente nas Escrituras Sagradas. Dizendo respaldo “consistente”, porque na verdade não basta está na Bíblia e sim tem que está defendida em caráter de ordem, porque alguns textos na verdade até há um pseudo-respaldo, uma tentativa de mostrar que a aludida proibição, prática ou pecado está registrado na Bíblia. Porém, o mesmo revelar-se-á inconsistente e equivocado quando o leitor atento observar a diferença entre um registro bíblico e um princípio bíblico.
Podemos observar que um princípio bíblico é sempre amplamente defendido em toda a Escritura e também nos é ordenado a sua observação, enquanto no caso de um simples registro, não há nenhum imperativo ou determinação para que os leitores procedam de conformidade com os atos dos personagens bíblicos descritos na narrativa.
Exemplo 1: O patriarca Abraão mentiu certa ocasião para preservar a sua vida, isto indica que há circunstância em que o cristão também pode fazer uso da mentira?
Uma coisa é a Bíblia registrar que Abraão mentiu sobre a sua relação conjugal com Sara, temendo ser morto ao ser identificado como seu esposo (Gn 12.11-13). Outra coisa totalmente diferente é ensinar com base neste registro que os crentes também poderão mentir ao se depararem com situações que causam vexame e delicadas, situações de risco ou até mesmo, mentir para evitar algum problema ou constrangimento, este tipo de ensino contraria o princípio claro das Escrituras quanto ao falar a verdade, princípio este, amplamente presente em toda a Escritura Sagrada (Sl 15.1,2; Zc 8.16; Mt 5.37; Ef 4.25; Fp 4.8; Cl 3.9; Ap 22.15).
Exemplo 2: Quais são as comidas que devemos evitar para seguirmos o exemplo de fidelidade do profeta Daniel?
A ocasião em que o profeta Daniel na corte da Babilônia, provavelmente contrariava as recomendações da Velha Aliança é um registro bíblico (Dn 1.8). No entanto esse texto não servirá de base para se proibir a ingestão de determinados alimentos da Nova Aliança, sob o pretexto de seguirmos o exemplo de fidelidade do profeta Daniel, pois, o registro deste fato não é seguido de uma recomendação específica para que assim se faça. E ainda que fosse teria outros destinatários, não os da Nova aliança. Se esta passagem for interpretada desta forma, provocará uma incoerência com o princípio neo-testamentário acerca da ingestão de alimentos e espiritualidade (Mc 7.15; 1Co 8.8; 1Tm 4.4,5). Vale salientar que este princípio da Nova Aliança, na qual estamos inseridos.
Exemplo 3: Qual o mais importante? Beijar ou amar?
O fato de que o apóstolo Paulo exortar aos cristãos de seus dias a utilizarem a prática do ósculo ou beijo em suas saudações fraternais (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26) é perfeitamente compreensível dentro de uma ocasião cultural onde a prática é comum (Lc 7.44,45), portanto, temos aqui um registro cultural bíblico da época. Porém, exigir que os cristãos do ocidente procedam da mesma maneira é importar a cultura de povos do passado para a vida cristã e um equívoco de interpretação. Neste caso, devemos atentar para o princípio do texto que a comunhão fraternal, que está acima da prática exterior ou a forma como manifestamos esta comunhão. O princípio bíblico sempre se sobreporá a um simples registro de uma ação. Pode haver beijo sem amor e amor sem beijo, basta que lembremos o caso da traição de Judas Iscariotes (Lc 22.48; Mc 3.19), e em algumas igrejas existe hoje as mais variadas saudações fraternais seguindo o princípio de amar e desejar a paz ao irmão.
II-HERMENÊUTICA ESPECIAL
Vamos ver agora algumas regras e princípios de interpretação das Sagradas Escrituras, portanto, ainda da Hermenêutica Sacra, que se aplicam a determinados textos da narrativa bíblica com características peculiares. Trata-se da tipologia bíblica, da literatura poética, das parábolas e da profecia.
Cada um destes gêneros literários presentes no texto sagrado exigem um olhar diferenciado do interprete que considere algumas especificidades destes gêneros. Vejamos então, algumas regras que dizem respeito a estes casos.
1) PRIMEIRA REGRA
A relação tipo e antítipo deve estar declarada nas Sagradas Escrituras.
Primeiro vamos entender esta relação, precisamos entender estes dois termos, o “TIPO” e o “ANTÍTIPO”. A relação destes dois elementos que costumamos chamar de tipologia bíblica baseia-se na semelhança entre dois elementos, geralmente um do Antigo Testamento e outro do Novo Testamento. É uma forma didática de Deus nas Escrituras Sagradas para revelar e ensinar os leitores da sua santa palavra acerca da identidade, missão, natureza, etc. De eventos, pessoas e realidades do futuro, enfim, a sua verdade revelada.
Vejamos a definição de tipo que nos é oferecida por Henry A. Virkler:
As ideias básicas expressas por tupos e seus sinônimos são os conceitos de parecença, semelhança e similaridade. A seguinte definição de tipo desenvolveu-se de um estudo indutivo do uso bíblico deste conceito: tipo é uma relação representativa preordenada que certas pessoas, eventos e instituições têm com pessoas, eventos e instituições correspondentes, que ocorrem numa época posterior na história da salvação. (VIRKLER, 2001, p. 141).
Virkler ainda específica este emprego didático de Deus nas Escrituras Sagradas e caracteriza ou tipos diferenciando-o dos símbolos:
Deus prefigurou sua obra redentora no Antigo Testamento, e cumpriu-a no Nova; o Antigo Testamento contém sombras de coisas que seriam reveladas de modo mais pleno no Novo. A prefiguração é chamada tipo; o cumprimento chama-se antítipo. ...os símbolos servem de sinais de algo que representam, sem necessariamente ser semelhantes em qualquer respeito, ao passo que os tipos se assemelham de uma ou mais formas ás coisas que prefiguram. ...os tipos apontam para o futuro, ao passo que os símbolos podem não fazê-lo. Um tipo sempre precede historicamente o seu antítipo, ao passo que um símbolo pode preceder, coexistir, ou vir depois daquilo que simboliza. (VIRKLER, 2001, p.142).
Portanto, um tipo deve ter alguma semelhança com aquilo que prefigura, deve necessariamente apontar para um futuro e esta relação tipológica deve estar explicitamente declarada nas Escrituras Sagradas. Esta última característica de um tipo é a que se relaciona coma regra que estamos focalizando.
Berkhof diferencia o tipo e o antítipo com muita propriedade e exemplifica o perigo de desprezarmos estas considerações tipológicas na interpretação das Sagradas Escrituras:
Finalmente, é necessário considerar devidamente a diferença essencial entre tipo e antítipo. Um representa a verdade em um estágio inferior, o outro, a mesma verdade em um estágio superior. Passar do tipo para o antítipo é ascender daquele em que o carnal é preponderante para puramente espiritual, do externo para o interno, do presente para o futuro, do terreno para o celestial. Roma perdeu isso de vista quando encontrou na missa o antítipo dos sacrifícios do Antigo Testamento; na sucessão apostólica de padres e bispos, o antítipo do sacerdócio; e no papa, o antítipo do sumo sacerdote. (BERKHOF, 2000, p.145).
Podemos dizer que há pelo menos duas categorias de tipos, aqueles que são identificados na própria Escritura Sagrada como tal, e estes chamados de tipologia declarada, pois a Bíblia é quem declara a sua relação tipológica com um antítipo, e temos os tipos que possuem uma relação de semelhança e também apontam para o futuro na relação com o seu antítipo, porém, a Escritura Sagrada não informa de modo claro que se trata de um tipo, neste caso, chamamos de tipologia aplicada, onde o intérprete é quem apresenta o tipo:
De forma resumida, teremos:
TIPOLOGIA DECLARADA |
A própria Bíblia revela o tipo e seu antítipo. |
TIPOLOGIA APLICADA |
O intérprete identifica o tipo, mas a Bíblia não afirma claramente. |
Como o interprete pode imaginar, os problemas começam na tipologia aplicada que alguns dizem que não é válida, pois a sua existência depende significativamente do interprete que é falível, enquanto que a tipologia declara repousa na autoridade da Palavra de Deus.
Mesmo havendo aspectos de uma relação tipológica na tipologia aplicada, nossa regra nos orienta e fecharmos a questão em torno daquilo que está dito claramente como sendo uma relação tipo e antítipo no próprio texto bíblico, ou seja, na tipologia declarada.
Berkhof nos fala da importância de considerarmos esta e outras regras na interpretação da tipologia bíblica, bem como de sua identificação no texto sagrado:
O que é um tipo? Uma resposta correta a essa questão irá nos proteger contra o erro de, por outro lado, limitar demais o elemento tipológico e, por outro, ampliá-lo indevidamente. ...As três características seguintes são geralmente dadas pelos escritores de tipologia: (1) Deve haver algum ponto realmente notável de semelhanças entre um tipo e seu antítipo. Quaisquer que sejam as diferenças, o primeiro deve ser um retrato verdadeiro do último em algum ponto particular. (2) O tipo deve ser designado por mandato divino pata ter semelhança com o antítipo. A similaridade acidental entre uma pessoa ou evento do Antigo e Novo Testamento não significa que um seja tipo do outro. Deve haver alguma evidência escriturística de que isso foi assim designado por Deus. (BERKHOF, 2000, p.141,142; grifo nosso).
Vejamos agora alguns exemplos que nos ajudem a melhor entender esta regra da hermenêutica especial no que diz respeito à tipologia bíblica:
Exemplo 1: Por que Jesus Cristo é identificado como sendo “o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo?”.
Este é um exemplo claro do que chamamos de tipologia declarada, pois é a própria Escritura Sagrada quem aponta o cordeiro sacrifical do Antigo Testamento (Gn 22.7,8) como sendo um tipo de Jesus Cristo, o antítipo, conforme a solene declaração do profeta João Batista (Jo 1.29). As semelhanças entre os cordeiros trazidos para o sacrifício na Antiga Aliança e a morte expiatória de Cristo são evidentes, mas sobretudo, possuem o respaldo da Escritura Sagrada de que esta é uma relação tipológica (Hb 9.12; 1Pe 1.19; Ap 5.6,8; 13.8).
Exemplo 2: O profeta Samuel seria um tipo do Espírito de Deus?
Dentre os muitos exemplos de tipologia aplicada, onde corremos o maior risco de nos desviarmos da verdade do texto para aplicações pessoais e na maioria das vezes, absurdas, podemos fazer uso deste, extraído de uma situação verídica, durante uma “pregação de fogo” de um certo pregador, Segundo o referido pregador, no relato bíblico do profeta Samuel ao ser enviado a casa de Jessé para ungir um de seus filhos como rei de Israel (1Sm 16.1-13), teríamos algumas relações tipológicas, onde o profeta Samuel seria um tipo do Espírito Santo que viria ungir a Igreja, prefigurada nesta ocasião pelo rei Davi.
Tudo bem, podemos até admitir que há uma leve e circunstancial semelhança entre dois elementos, no entanto, como explicar o fato do engano do profeta Samuel sobre quem deveria ungir como o novo rei? Algumas implicações no texto impedem esta tipologia pretendida: 1) Samuel não sabia como empreendia viagem temendo ser morto por Saul (v.2). 2) Enganou-se, pensando ser Eliabe o escolhido (v.6). 3) Foi repreendido pelo Senhor por atentar para a aparência exterior, diferente da avaliação (v.7). 4) Não sabia se ainda havia mais filhos de Jessé (v.11). Diante do exposto, não restam dúvidas que este não é um caso de tipologia bíblica, principalmente por não haver nenhuma evidência das Escrituras Sagradas que aponte para isso. É um caso de tipologia aplicada.
Berkhof ainda nos adverte acerca de outro cuidado que devemos ter na interpretação tipológica:
O intérprete deve se proteger contra o erro de considerar uma coisa má como tipo de algo bom e puro. Deve haver congruência. A representação das roupas de Esaú, que Jacó vestiu quando enganou seu pai e recebeu a bênção, como um tipo da justiça com a qual Cristo adorna seus santos, choca o nosso senso moral. Naturalmente há tipo in malam partem de antítipos similares. Cf. Gl 4.22-31. (BERKHOF, 2000, p.143; grifo nosso).
Os tipos in malam partem são Assim, diz-se que ocorre integração da lei através da analogia in malam partem quando o sujeito é prejudicado pela sua aplicação. Logo, devemos tomar cuidado na tipologia aplicada, para não prejudicar o significado real devemos perceber se existe coerência. Berkhof ainda acrescenta importante orientação quanto ao nosso procedimento no estudo dos tipos e seus significados:
Mas, tendo aprendido os limites próprios dos tipos a partir do estudo da sua importância simbólica, a verdade exata que transmitiam ao povo de Deus do Antigo Testamento, o intérprete terá de se voltar para o Novo Testamento para um discernimento real quanto à verdade tipificada. É evidente que os tipos apresentavam a verdade em uma forma velada, enquanto no Novo Testamento, as realidades dispersam as sombras e apresentam a verdade com o brilho resplandecente. Se as profecias só podem ser completamente entendidas à luz do seu cumprimento, isso também se aplica aos tipos. Observe quanta luz adicional à epístola aos Hebreus lança sobre as verdades incorporadas no tabernáculo e na mobília. (BERKHOF, 2000, p.144).
Estas orientações podem ser acrescidas de outras igualmente preciosas que encontramos na obra de Bruggen, quanto às condições necessárias para se praticar a interpretação de tipos bíblicos:
A existência de uma exegese tipológica deve ficar evidente a partir da própria exegese. Aqui, tampouco há um sistema geral de regras que possa ser aplicado a textos muito divergentes. Podemos, porém, formular algumas regras que podem dar uma pista.
2) SEGUNDA REGRA
É importante considerar os paralelismos de ideias no texto sagrado.
Chamamos de “paralelismo de ideias” a estrutura literária bastante comum na literatura poética, apesar de também se fazer presente de modo considerável em toda a Bíblia. Trata-se de colocar ideias ladeadas ou justapostas, daí a expressão “paralelismo”, lembrando a imagem de uma avenida de mão dupla, onde temos duas faixas de trânsito paralelas. Os paralelismos de ideias são encontrados abundantemente na seção dos livros poéticos da Bíblia, principalmente no livro de Salmos e Provérbios.
Precisamos entender estas estruturas literárias para assim, praticarmos uma interpretação mais coerente com as especificidades das Escrituras Sagradas como livro divino-humano.
Os paralelismos se constituem num aspecto fundamental da poesia hebraica, chegando a diferenciá-la de outras poesias, conforme registra Baxter:
Achamos necessário dizer aqui algumas palavras sobre a natureza da poesia hebraica, uma vez que difere da nossa sob determinados aspectos dignos de nota. Grande parte da nossa poesia moderna apoia-se na rima ou paralelismo sonoro. Além disso, existe um ritmo ou paralelismo de tempo. Na rima atingimos o prazer da concordância fonética. No ritmo atingimos o prazer da concordância métrica. Na poesia hebraica, porém, não existe nem o paralelismo sonoro da rima nem o do ritmo, mas existe um paralelismo de ideias (BAXTER, 1993, p.17).
Basicamente há dois tipos de paralelismos de ideias presentes em diversas partes das Escrituras Sagradas, mas como já dissemos anteriormente, principalmente em Salmos e Provérbios, são eles o paralelismo sinonímico e o paralelismo antitético ou contrastante. Vejamos cada um deles e atentemos bem para os exemplos:
a) PARALELISMO SINONÍMICO – Ocorre quando a segunda linha do versículo repete ou reforça a declaração ou princípio da primeira linha, por isso, é considerado uma espécie de expressão sinônima. Represente bem o estilo repeticioso da poesia hebraica, onde repetir a sentença, ainda que com palavras diferentes, torna-se num excelente método de ensino e assimilação por parte do povo.
Exemplo 1: Paralelismo sinonímico.
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.” (Sl 19.1).
Note a relação de paralelo sinônimo entre as palavras “céus” e “firmamento”, não são duas coisas distintas, antes apontam para a mesma obra da criação. Da mesma forma os termos “proclamam” e “anunciar”, ambos representam a mesma ação de tornar conhecido alguma coisa, divulgar, fazer propaganda etc. E ainda temos outras duas expressões que por se encontrarem num paralelismo deste tipo passam a ter o mesmo significado, “a glória de Deus” e “as obras de sua mão”, aparentemente diferentes, no paralelismo sinonímico expressa que a glória de Deus é expressa pela sua criação. Observe o quadro:
Assunto: |
1ª Linha |
2ª Linha |
Elemento da criação: |
Céus |
Firmamento |
Ação desenvolvida: |
Proclamam |
Anuncia |
A revelação: |
A glória de Deus |
As obras de sua mão |
Exemplo 2: Paralelismo sinonímico.
“Desfaço as tuas transgressões como a névoa e os teus pecados, como a nuvem; torna-te para mim, porque eu te remi” (Is 44.22).
Observe o uso das expressões sinônimas “transgressões” e “pecados” para descrever o mesmo ato, a desobediência à Deus. E ainda, o mesmo exemplo extraído da natureza, “névoa” e “nuvem”. Observe o quadro:
Assuntos: |
1ª Linha: |
2ª Linha: |
Desobediência: |
Transgressões |
Pecados |
Como Deus desfaz: |
Névoa |
Nuvem |
Exemplo 3: Paralelismo sinonímico.
“A lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos simples. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e alumia os olhos. (Sl 19.7-8)
Novamente você poderá perceber que as expressões “lei do Senhor” é equivalente a palavra “testemunho”, onde ambas referem-se a Palavra de Deus. O efeito da Palavra de Deus será representado na primeira linha pela expressão “restaura a alma” e na segunda linha pela expressão “dá sabedoria aos simples”. Ainda podemos observar as palavras “preceitos do Senhor” e “mandamentos do Senhor”, e o efeito da Palavra “alegram o coração” e “alumia os olhos”. Observe o quadro:
Assunto: |
1ª Linha |
2ª Linha |
Palavra de Deus: |
Lei do Senhor |
Testemunho do Senhor |
Efeito da Palavra de Deus: |
Restaura a alma |
Dá sabedoria aos simples |
Palavra de Deus: |
Preceitos do Senhor |
Mandamento do Senhor |
Efeito da Palavra de Deus: |
Alegram o coração |
Alumia os olhos |
Exemplo 4: Paralelismo sinonímico.
“Bem aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Sl 1.1).
Este é um texto com três linhas, considerado como um paralelismo completivo, porque as linhas seguintes além de confirmar a sentença inicial, amplia a sua declaração a cada linha, por isso o nome sugerido por alguns autores, “completivo”, há uma revelação progressiva no verso. Analise no quadro:
Assunto: |
1ª Linha |
2ª Linha |
3ª Linha |
Ação humana: |
Anda |
Se detém |
Se assenta |
Elemento do pecado: |
Conselho |
Caminho |
Roda |
Incrédulos: |
Ímpios |
Pecadores |
Escarnecedores |
b) PARALELISMO CONTRASTANTE ou ANTITÉTICO – Neste tipo de paralelismo a ideia expressa na segunda linha do verso contrasta ou diz exatamente o contrário da sentença da primeira linha. Este tipo de paralelismo, também chamado de antitético, ocorre em toda a Escritura Sagrada, porém, no livro de Provérbios encontraremos abundantes exemplos do mesmo. Geralmente se faz presente uma conjunção adversativa (mas, porém, contudo, todavia etc.) dando a ideia de conceitos adversos, opostos.
Exemplo 1: Paralelismo antitético.
“A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba.” (Pv 14.1).
Note os adjetivos de sentido totalmente opostos que são empregados para descrever estes dois tipos de mulheres, “sábia” e “insensata”, bem como, também serão opostos o resultado familiar que cada uma delas provocará, enquanto a mulher sábia “edifica” a mulher tola “com as próprias mãos a derriba”. Observe no quadro ilustrativo:
Assunto: |
1ª Linha: |
2ª Linha: |
Tipo de mulher: |
Sábia |
Insensata |
Consequência: |
Edifica a sua casa |
Com as próprias mãos, a derriba |
Exemplo 2: Paralelismo antitético.
“A casa dos perversos será destruída, mas a tenda dos retos florescerá.” (Pv 14.11).
Mais uma vez neste exemplo é possível perceber o contraste nítido entre os ímpios e os justos, neste versículo, descritos respectivamente, como “perversos” e “retos”. O lugar de suas habitações (“casa” e “tenda”) receberá consequências de conformidade com o caráter e procedimento de seus moradores, enquanto uma será “destruída” a outra “florescerá”. Veja o quadro:
Assunto: |
1ª Linha: |
2ª Linha: |
Lugar de habitação: |
Casa |
Tenda |
Homens: |
Perversos |
Retos |
Resultado no futuro: |
Será destruída |
Florescerá |
Exemplo 3: Paralelismo antitético.
“Pelo que assim diz o Senhor Deus: Eis que os meus servos comerão, mas vós padecereis fome; os meus servos beberão, mas vós tereis sede; os meus servos se alegrarão, mas vós vos envergonhareis; os meus servos cantarão por terem o coração alegre, mas vós gritareis pela tristeza do vosso coração e uivareis pela angústia de espírito.” (Is 65.13,14).
Neste texto temos diversos contrastes estabelecidos entre os “servos” de Deus e aqueles que não servem ao Senhor, desviados do seu povo (Is 65.11) “vós”. Temos aqui uma sequência de benefícios prometidos aos que servem a Deus, “comerão”, “beberão”, ”se alegrarão” e “cantarão”, enquanto aos que não são servos é predito o oposto de todas as bênçãos. Atente para a ilustração do quadro abaixo:
Classe de Homens: |
Servos |
“vós” (desviados) |
1ª Linha: |
Comerão |
Padecereis fome |
2ª Linha: |
Beberão |
Tereis sede |
3ª Linha: |
Se alegrarão |
Vos envergonhareis |
4ª Linha: |
Cantarão |
Gritareis e uivareis |
Exemplo 4: Paralelismo antitético.
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6.23).
Observe o contraste que é desenvolvido propositalmente pelo autor, debaixo da inspiração divina. A primeira consideração contrastante é que o “pecado” paga ao homem como “salário” ou retribuição a “morte”, enquanto, “Deus” nos oferece o “dom gratuito” que é a “vida eterna”. Veja a ilustração abaixo:
Assunto: |
1ª Linha |
2ª Linha |
Patrão: |
Pecado |
Deus |
Pagamento: |
Morte |
Vida Eterna |
Diante do que já expomos acerca dos paralelismos de ideias, convém lembrar algumas considerações importantes dos autores Fee e Stuart em relação a interpretação da literatura poética da Bíblia:
Conforme acontece com os demais gêneros bíblicos, Salmos, por serem um tipo especial de literatura, requerem cuidados especiais na leitura e interpretação. Talvez a coisa mais importante da qual se deve lembrar ao ler ou interpretar os Salmos deva também ser a mais óbvia: são poemas, poemas musicais. Precisamos ter consciência de que a poesia hebraica, pela sua própria natureza, era dirigida, por assim dizer, à mente através do coração (i.é., boa parte da linguagem é intencionalmente emotiva). Devemos, portanto, tomar cuidado para não colocar demais de exegese nos Salmos, a ponto de achar significados especiais em toda a palavra ou frase, onde o poeta talvez não tenha objetivado nenhum. Por exemplo, você se lembrará que a natureza da poesia hebraica sempre envolve o paralelismo, e que uma das formas dele é a que é chamada o paralelismo sinônimo (onde a segunda linha repete ou reforça o sentido da primeira linha). Neste tipo de naturalismo, pois, as duas linhas juntas expressam o significado do poeta; e a segunda linha não está procurando dizer alguma coisa nova ou diferente. (FEE; STUART, 1997, p.176,177).
Considerações Finais
Ao terminarmos de ver todas essas regras, devemos ter em mente que cada pessoa tem um ponto de vista, mas a Bíblia não! Só ela tem a verdade, e usando essas regras, do jeito que aqui foi colocado já podemos usar nos textos Sagrados, sabendo que, são regras que não tornarão a pregação mecânica e sim vai dar a correta interpretação dos textos, respondendo nossas perguntas a respeito do texto Sagrados, sabendo que ao encontrar dificuldades nos textos, deveremos ter duas atitudes básicas: 1ª) Usar essas regras que foram aprendidas, e se ainda existir dificuldades, tomar a segunda atitude que é 2ª) Ter em mente as tradições, religiões, costumes através da história judaica e comparar com os textos Sacrossantos, para uma melhor exegese. Glória a Deus!.